União é a
palavra-chave das escolas de samba mirins do Rio de Janeiro para botar na
avenida o carnaval 2019. Numa área embaixo do viaduto da Avenida Trinta e Um de
Março, no Catumbi, região central da cidade, 11 das 16 agremiações, que compõem
o grupo, transformaram o local em um barracão improvisado. É ali que tentam
juntar as doações para preparar as poucas alegorias que farão parte dos
desfiles no dia 5 de março, terça-feira de carnaval, na Passarela do Samba.
Pelo regulamento, cada uma pode levar para o desfile até dois carros
alegóricos.
Os presidentes da
Inocentes da Caprichosos, Jefferson Rocha, e da Golfinhos do Rio, Valéria
Pires, trocaram alegorias de carnavais passados, inclusive as que receberam de
doação de escolas de outros grupos. Depois de restauradas, serão levadas à
avenida.
Os integrantes da Petizes da Penha, instalada na comunidade da
Vila Cruzeiro, na zona norte, vão desfilar com fantasias confeccionadas com
tecidos que, no ano passado, foram usados nas fantasias das baianas de outra escola.
A presidente da Petizes, Patrícia dos Santos, contou que viu na doação a
solução para produzir as fantasias das crianças.
O trabalho, que será feito por costureiras que se formaram em um
dos projetos da escola para capacitação profissional, conta ainda a
participação de pais e componentes antigos e amigos da escola. “A gente tem
trabalhado muito, mas vai fazer um carnaval bonito”.
A falta de recursos causa impacto também no número de
componentes. “Sempre levei 2 mil crianças. Ano passado, cheguei a 900 e, este
ano, acho que não chego nem a 500, porque cada ônibus custa R$ 1.300. Eu
preciso de 15 ônibus”, conta a presidente da Golfinhos do Rio de Janeiro,
Valéria Pires.
Há cinco carnavais no comando da Filhos da Águia, Celsinho de
Andrade, disse que as doações chegam da escola mãe, a Portela. “Sempre passo
para o carnavalesco o enredo do carnaval do ano seguinte para ele ver na
Portela o que a gente pode utilizar e até para reciclar. Ele é criativo, e do
lixo ele faz o luxo”, afirmou. Este ano houve reforço no apoio da Portela que
ofereceu a mão de obra para a recuperação dos carros alegóricos. “No abre-alas,
vamos ter até três filhotes em um ninho embaixo da Águia.”
Escolas Mirins Rio
A maioria dos componentes
do grupo das mirins é de comunidades da região metropolitana do Rio. As idades
variam entre 5 e 18 anos e, justamente por isso, as escolas precisam bancar os
custos de lanche, bebidas e ônibus para o transporte até o Sambódromo.
A exigência para desfilar é estar estudando. Para desfilar, cada
criança precisa ter o documento de autorização do juizado de menores e, na
avenida, os componentes são acompanhados pelos diretores de harmonia das
agremiações.
O vice-presidente da Ainda Existe Criança na Vila Kennedy, Artur
Cardoso, que segue o caminho da avó, dona Turquinha, presidente da escola e
ex-presidente da associação, disse que vale todo o sacrifício para não deixar o
samba não morrer. “Nós vamos resistir. Mesmo com poucos ou sem recursos estamos
unidos para não deixar o samba acabar. As escolas de samba mirins vão manter o
seu trabalho de qualquer forma”, disse. Segundo ele, cerca de 2 mil crianças da
comunidade vão para a avenida este ano.
Juliana Pires tem 7 anos e está acostumada com ambiente de
carnaval. Com poucos dias de vida acompanhou a mãe que precisou ir para a
avenida cuidar dos últimos detalhes de um carro alegórico na avenida. Hoje,
Juliana é rainha de bateria da Golfinhos do Rio de Janeiro, escola em que a avó
é presidente. “Eu nasci dentro da escola”, contou. O irmão de Juliana é diretor
de bateria.
Inclusão
As escolas
mirins também fazem carnaval de inclusão. A Filhos da Águia desfila com 100
crianças e adolescentes especiais: autistas, surdos, com síndrome de down,
cadeirantes. Já é uma marca da escola. Este ano terá uma novidade. Por meio de
uma parceria com uma organização não governamental, a escola vai desfilar com
meninas em situação de rua e grávidas. Além disso, está em conversas com o
Instituto Benjamin Constant, instituição de ensino de deficientes visuais, para
ter alunos também desfilando na escola. “Antes a gente tinha duas ou três alas
com crianças especiais, hoje a gente mescla. Este ano, a ala das baianas será
com 30 meninas especiais.”
Verba
A prefeitura do Rio ainda
não liberou os recursos para as escolas de samba mirins prepararem os desfiles
deste ano. Faltando menos de um mês para se apresentarem no Sambódromo, o
presidente da Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro
(AESM-Rio), Edson Marinho, disse à Agência Brasil, que os dirigentes das
agremiações estão tensos.
“A única verba que as escolas têm vem da prefeitura, por meio da
Riotur. Não tem nenhum tipo de arrecadação extra. Não trabalhamos com bebida
alcoólica nos ensaios, a fantasia é gratuita. Estamos aguardando a boa vontade
do prefeito para assinar o contrato e liberar a verba”, contou em entrevista à
Agência Brasil.
Marinho conta que a subvenção da prefeitura caiu de R$ 840 mil
recebidos no último ano da administração do prefeito Eduardo Paes, em 2016,
para R$ 640 mil no primeiro ano de Marcello Crivella. De acordo com a Riotur,
empresa de turismo da cidade, em 2018 foram pagos cerca de R$ 600 mil às
escolas mirins e, agora, o órgão aguarda uma definição da Casa Civil sobre a
data para a liberação do dinheiro e de quanto será o valor.
Enquanto isso não ocorre, segundo o presidente da AESM-Rio, os
dirigentes recorrem a cartas de crédito para a compra dos materiais. “A
dificuldade de conseguir um patrocínio é não ter a mesma visibilidade do grupo
especial, porém, tem um público expressivo que vai à Sapucaí para ver as
crianças”, disse.
Com Agência Brasil
Fonte: www.srzd.com